“Ó – um dispositivo de dança de Cristian Duarte em Z0NA”
Seguindo a sua pesquisa sobre minimalismo na dança e a sensorialidade do movimento, Cristian Duarte manifesta nesta criação a vontade de estabelecer uma dramaturgia tátil através da modulação incessante da percepção e do afeto.
O mito de Orfeu, ponto de partida para esta obra, disparou uma vontade reflexiva sobre como re-significar o discurso relacional presente na narrativa grega. Na insistência por estabelecer um pensamento distante do hemisfério trágico, o olhar para trás de Orfeu, que o fez supostamente abandonar todo o seu investimento libidinal por Eurídice, tornou-se, para nós, um juízo. Qualquer escolha se depara com encruzilhadas e eleger um mundo que compreende o gesto de olhar para trás – com todas as metáforas que isso deve e pode designar com consciência – traz ao trabalho um movimento próximo de uma ecologia dos afetos, e distante da frontalidade obediente.
Como encontro que se estabelece entre muitas instâncias, das moleculares às mais exteriores, a peça convida o público para integrar, junto dos bailarinos, um campo de empatia. Esse sentimento é o movimento fundamental para a obra estabelecer uma dilatação de detalhes e subtilezas.